segunda-feira, 21 de junho de 2010

O quê aprendemos com o CALA BOCA GALVÃO





Artigo de Cláudio Torres, consultor em marketing digital e mídias sociais, autor do livro A Bíblia do Marketing Digital, publicado originalmente em 21-06-2010
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Esta semana circula a edição da Revista Veja que tem na sua capa o famoso viral que estourou no Twitter na semana passada, o “CALA BOCA GALVÃO”. A matéria mostra um panorama geral do Twitter, incluindo informações bastante curiosas, como a briga entre a CNN e o ator Ashton Kutcher pelo primeiro milhão de seguidores, a recente briga entre Rick Martin e Hugo Chavez, que tuitou que o cantor era chavista e foi desmentido, e um comentário meu onde afirmo que 18% dos votos que serão disputados na Internet nas eleições 2010.

Além disso, a matéria apresenta fatos interessantes sobre a ferramenta :

* O Twitter já é a segunda maior rede social do Planeta.
* O Twitter já tem 150 milhões de usuários, e 190 milhões de visitas únicas por mês.
* Todos os dias são 65 milhões de mensagens via Twitter.
* Todos os dias são feitas 600 milhões de buscas no Twitter.
* No Brasil o Twitter é a segunda maior rede social com 11 milhões de visitantes únicos, perdendo só para o Orkut.

Durante o sucesso do CALA BOCA GALVÃO alguns dos meus seguidores no Twitter (@oclaudiotorres) pediram que eu comentasse sobre o assunto, e outros afirmaram que seria o Case do Ano em Marketing Viral.

Como sempre faço decidi esperar um pouco para entender melhor o que de fato estaria acontecendo, para depois escrever um artigo mais relevante para meus leitores, com uma análise mais coerente.

Primeiro é preciso que se diga que a frase original “Cala a boca, Galvão” foi criada pelo Macaco Simão, do brilhante José Simão, que dispensa apresentações. Portanto já era um hit na comunicação jornalística e na boca do povo. Segundo é preciso ponderar que não houve um primeiro emissor, ou um gênio por trás da ação. Foi simplesmente a abertura da Copa do Mundo, e consequentemente o início dos comentários do locutor da Globo Galvão Bueno, que dispararam a frase, e sua consequente repercussão no Twitter, por milhares de Internautas. Ao que me consta, foi no dia 10/06, o dia da abertura oficial da Copa do Mundo, que a frase “CALA BOCA GALVÃO” apareceu pela primeira vez no Trend Topics ( lista do Twitter com os assuntos mais comentados ).

Como já aconteceu, e vem acontecendo todos os dias, alguma frase sempre acaba no Trend Topics. O que de fato gerou a explosão, e o interesse mundial, é que em função da gigantesca audiência da Copa do Mundo e, particularmente, o imenso interesse dos brasileiros pelo futebol, fizeram que a frase aparecesse não no TTBr ( o Trend Topics que mede só os assuntos discutidos no Brasil ) mas no Trend Topics geral do Twitter. Imagine os americanos, lendo uma frase incompreensível em Inglês, aparecendo no Trend Topics no dia da abertura do Mundial.

É óbvio que a curiosidade sobre o significado da frase foi o motivo que levou os Twiteiros de todo mundo, e a imprensa americana, a se interessar pelo nosso “CALA BOCA GALVÃO”. A grande explosão ocorreu no dia 11 quando o Wall Street Journal publicou, em seu blog, matéria sobre o tema e o significado da frase.

Depois disso um publicitário brasileiro, que ao que me consta mora nos Estados Unidos, postou o famoso vídeo no YouTube, com a campanha em defesa do “pássaro Galvão”, uma das explicações dadas de brincadeira pelos brasileiros para os americanos.

Mais uma vez, no dia 15, a frase “CALA BOCA GALVÃO” vai para o Trend Topics do Twitter, por causa da matéria publica pelo The New York Times explicando toda a história.

Assim, olhando toda a história, posso realmente comentar o que aprendemos com o “CALA BOCA GALVÃO”, em particular do ponto de vista do marketing digital, do uso da Internet para os negócios.

Em primeiro lugar, é fato notório, comprovado mais uma vez neste caso, que a impressa está ligada no Twitter de forma irreversível, e que assuntos que aparecem com relevância na rede passam a pautar muito jornais importantes. Isso mostra que o Twitter pode ser uma ferramenta de comunicação empresarial muito eficiente, principalmente se associada a um blog, o que dá mais profundidade aos textos. Os jornalistas estão, cada dia mais, ligados a Internet e ao Twitter, e a ferramenta passou a ser fundamental na assessoria de comunicação e nas relações públicas.

Em segundo lugar,o caso mostra a importância de estar monitorando as mídias sociais, e a repercussão que um ataque a sua marca ou a um candidato a eleição, pode atingir na rede. Não se trata de patrulhamento, mas da constatação que a Internet pode prejudicar uma marca, um produto ou uma pessoa em escala planetária, sem que ela sequer esteja presente na rede. Note que o Galvão Bueno não é um usuário intensivo das redes sociais, e que não houve nenhuma frase, comentário, post ou ação nas mídias sociais que gerasse o efeito indesejado do “CALA BOCA GALVÃO”. Foi uma ação espontânea de Internautas que estavam cansados do seu estilo de locução. Assim, estar presente nas mídias sociais e ficar atento aos ataques a sua marca ou nome, é uma atividade prioritária para qualquer negócio, mesmo para um gigante das comunicações como a Rede Globo, ou uma figura popular como o locutor Galvão Bueno.

Em último lugar, cabe dizer que não se trata de marketing viral. É sim um bom exemplo sociológico sobre o efeito viral da rede. Mas não é marketing viral. É importante que as pessoas separem a comunicação na Internet, como um fenômeno social, do marketing digital, uma parte desta comunicação voltada a produzir efeitos positivos nos negócios, nas marcas e nos produtos. Para ser marketing viral deve haver uma mensagem que traga benefício a marca. Para isso é preciso planejamento, difusão, controle e principalmente resultados. O caso do “CALA BOCA GALVÃO” não foi criado por alguém, nem planejado, e nem beneficia nenhuma marca. Ele tem na verdade um ataque a imagem do locutor Galvão Bueno, mas que pode ser considerada quase neutra, já que apenas mostra que alguns gostam dele e outros não, coisa comum em figuras de grande exposição na mídia. Criar uma grande barulho na rede através do efeito viral, não é marketing viral, mas somente uma constatação do efeito viral que, como todos já sabemos, está presente na rede.

O caso “CALA BOCA GALVÂO” nos mostra importantes lições sobre comunicação empresarial e sobre a importância de se ter planos de comunicação em momentos de crise nas redes sociais. Mostra também que o efeito viral é muito poderoso, o que valoriza o marketing viral, mas que alerta para a necessidade de se trabalhar ações virais muito bem planejadas, para evitar que o tiro saia pela culatra.

Em tempos de eleições e campanha política o “CALA BOCA GALVÃO” reforça uma das frases que digo em todos os meus seminários “nenhum candidato vai ganhar as eleições por causa de Internet, mas muitas vão perder por causa dela”.

Em tempo de negócios globalizados o “CALA BOCA GALVÃO” reforça outra frase que repito sempre quando falo de marketing digital “Aja agora, porquê amanhã é tarde

sábado, 19 de junho de 2010

Dia de tristeza infinda: Saramago morreu





" Saramago foi um homem simples, um serralheiro que aprendeu tarde a ler, e depois, como uma surpresa, começou a escrever livros. De serralheiro, passou a entalhar palavras. Escrevia como vivia: de um jeito simples. Conta uma história que seu editor, ao receber o manuscrito do primeiro livro, queria colocar pontos, vírgulas, parágrafos, em sua escrita. Mas ele não aceitou. E então, ficou para nós essa escrita como uma associação livre, que toca para além do Eu.

Escuto agora todas as matérias sobre sua morte. A imprensa, quase unanimemente, diz: era tão pobre, de família tão pobre, tinha tão poucos recursos. Por acaso um escritor sai da riqueza? Por acaso sai da academia? Um escritor sai de sua história.

Há cerca de três anos quase morreu. Mas sua mulher Pilar lutou contra. Ele dizia a ela que tinha chegado a hora. Ela respondia que não. Já tinha desistido de escrever, mas como ela não aceitava que ele morresse, resolver escrever mais um livro. E saiu A viagem do elefante. Que tem como epígrafe: a Pilar, que não me deixou morrer.

Escreveu outros depois desse.

Em dezembro do ano passado, no avião, abro a revista da TAP e começo a ler uma entrevista feita recentemente com José Saramago. Nela faz o mais belo panorama de sua vida, de sua escrita e de seu encontro amoroso com sua atual mulher, a jornalista espanhola, Pilar.

Relata que tem dois lugares no mundo, Lisboa e sua ilha de Lanzarote e não sabe mais qual deles é seu lugar no mundo: a Lisboa, onde se fez homem e escritor ou Lanzarote, a ilha que escolheu para viver.

Das viagens que fez pelo mundo, respondendo a uma pergunta da jornalista Ana Sousa Dias, diz que a viagem mais importante é a viagem “das pessoas e das coisas, no tempo”. E conta sobre as casas que construiu: “Fizemos esta casa, fizemos outra em Lisboa. Nunca tive casas, nunca tive bens de raiz, e agora tenho tudo, a começar por uma mulher extraordinária que foi a grande sorte de minha vida. E não é pela comodidade da pessoa que envelhece e que tem a seu lado alguém a quem quer, a quem ama e que sabe que é amado e querido por essa pessoa. Não é isso. Escrevi em “Cadernos de Lanzarote que se tivesse morrido com 67 anos, antes de conhecê-la, teria morrido mais velho do que sou agora, porque ela veio trazer – nem sei dizer o quê – a felicidade, sim, mas a felicidade é uma palavra curta, veio trazer outra coisa, um sentido de vida novo. Mesmo assim, isso não diz tudo”.

Em parte sua afirmativa que Pilar tem todos esses méritos é mentira: são seus próprios recursos – e os jornalistas do mundo só falam de sua ex-pobreza – que lhe permitiram viver com tanta sorte e ser feliz com uma mulher. Mas atrás desse mentira/ficção que conta-nos, fala uma verdade: a verdade mais estrutural de todo ser humano, de que somos orientados para o Outro. Vivemos pelo Outro e até deixamos de morrer pelo Outro.

Embora Saramago tenha tantos recursos, viveu a vida não como Poros e sim como Pênia – estou fazendo analogia com o mito de nascimento do amor – sempre pobre, simples, dormindo em chão duro, pelos caminhos. Por isso a surpresa de ter escrito livros, por isso a surpresa de ter tido casas.

Sei que ele como um serralheiro das palavras, esculpiu com sua obra, seu nome no mundo, mas hoje, especialmente hoje, não estou aceitando sua morte. E penso que a literatura nunca será a mesma. Estou muito, muito triste: nada mais de novos livros de Saramago, nada mais de entrevistas com Saramago nos dias que virão."



Andrea Brunetto
Psicanalista do Campo Lacaniano e Docente

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Relações Públicas ou “morte”!

ROBERTO PORTO SIMÕES


Nenhuma empresa entra, se mantém e, tampouco, se desenvolve em mercado competitivo de sociedade democrática, sem que, entre outras variáveis, seu produto/serviço seja conhecido por esse mercado. Todavia, o sucesso de uma empresa não se limita à comunicação, no sentido de publicidade de produto/serviço. O êxito organizacional, algo mais amplo. Passa, necessariamente, por decisões adequadas e das mesmas, inicialmente, para com os empregados/funcionários e depois para com todos os públicos, além dos consumidores e clientes.

Algumas empresas, mesmo satisfazendo todas as variáveis do marketing, podem desaparecer ou ter grandes prejuízos em razão de conflitos com seus públicos. Exemplo a citar: um bar que, faturando plenamente com a casa cheia, foi fechado por produzir barulho “excessivo”, importunando a vizinhança, integrada em uma associação de moradores organizada e forte. Este bar, ao reabrir, alguns meses após, não tinha mais freguesia. Esta se dispersara, mudara de hábitos. Isso ocorre porque a empresa possui inúmeros outros públicos, além dos clientes, com os quais troca algum bem. Ex.: os funcionários recebem salários e fornecem sua mão-de-obra; o governo concede permissão para funcionar e recebe impostos. A comunidade cede seu espaço e seu ar, recebendo em troca, os benefícios que a empresa produz em seu todo. Certamente que àquela não lhe agrada a poluição do ar pela indústria e o movimento e a sujeira perto de um super mercado. A organização deve transacionar com vantagens para si e para os públicos que afetam seus objetivos. “O bom negócio é o que agrada ambas as partes”.

A probabilidade de ocorrência de problemas com os públicos, bloqueando o processo de intercâmbio, depende das informações divulgadas do que faz e diz a organização em relação a expectativas dos mesmos em determinado momento histórico-conjuntural. Esse agir e dizer se inicia pelas políticas e normas estabelecidas pelos diretores, gerentes e chefes, se transmite pelo que fazem e dizem os empregados, pelo que divulgam as notícias e a publicidade e termina pela satisfação que provoca a qualidade do produto/serviço. Ex.: Atendimento mal feito em uma agência bancária pode expulsar clientes. Anúncio comercial de empresa estatal com monopólio pode gerar má vontade, pelo menos nos lideres de opinião e depois certamente nos contribuintes.

As expectativas dos públicos, a sua vez, correlacionam-se diretamente com os níveis de informação e participação na sociedade das pessoas que constituem os mesmos. Quanto mais politizada uma pessoa, mais exigente será. A profundidade dos problemas com os públicos depende do nível de democracia participativa da comunidade, do envolvimento dos meios de comunicação de massa (com o dever de oficio de denunciar os deslizes das organizações) e de uma estrutura judiciária forte e eficaz.

Cada vez mais a sociedade se organiza. (Veja: as associações, sindicatos, etc.), os meios de comunicação possuem liberdade de imprensa e o poder judiciário se flexibiliza. Certamente, as organizações, além de produzir bom produto/serviço, terão de apresentar com outros benefícios sociais.

Assim, o administrador eficaz, além de se ocupar dos aspectos mercadológicos, produção, financeiro, potencial humano, pesquisa e desenvolvimento, estabelece, também, políticas, normas e programas de Relações Públicas com seus públicos, por saber que isso facilita as transações, é anticorpus aos problemas de relação de poder que surgem, naturalmente, entre as partes envolvidas e, também, é ponto forte na competição com os concorrentes.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Reprint - Relações Públicas tem futuro promissor no Brasil




A entrevista com Jeffrey Sharlach foi originalmente publicada no Portal Exame no dia 31/05/2010.

Relações Públicas tem futuro promissor no Brasil

Jeffrey Sharlach, um dos profissionais mais respeitados do mundo na área, conta a EXAME por que o Brasil é o melhor mercado para sua agência



São Paulo - O norte-americano Jeffrey Sharlach é um dos profissionais de relações públicas mais respeitados do mundo. Dono da agência multinacional The Jeffrey Group, há 17 anos apostou no mercado latino-americano para alavancar seus negócios. Deu certo. Hoje tem filiais em quatro países, parcerias em outros 23, e faturamento de aproximadamente US$ 5 milhões. Com a popularização da internet e das redes sociais, Sharlach vê no Brasil um grande espaço para o crescimento da comunicação corporativa.

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"Os brasileiros são muito sociáveis. Esse é um dos motivos do nosso sucesso por aqui", afirma. Responsável por contas como Sony Ericsson, Coca-Cola, Kodak, American Airlines e Johnson & Johnson, o The Jeffrey Group tem em São Paulo seu maior escritório, segundo o fundador. E foi no Brasil que ele escolheu centralizar as atividades na área digital, nomeando um profissional específico, o jornalista Gerson Penha, para cuidar do trabalho em redes sociais.

A própria empresa realizou uma pesquisa em fevereiro, durante a última Campus Party, na 86% dos entrevistados disseram confiar mais em empresas que interagem com seus consumidores na internet. "Uma propaganda irá dizer 'faça isso, faça aquilo'. Relações públicas sempre teve a ver com formar, educar e engajar as pessoas. É por isso que as relações públicas tiveram muito mais sucesso na transição para o digital", diz Sharlach. "Nós sempre temos que ouvir as pessoas, estamos em uma conversação entre duas partes".

Na semana passada, Sharlach esteve no Brasil em visita ao escritório local, e conversou com o site EXAME. Confira a entrevista exclusiva:

EXAME - Qual a diferença de trabalhar com relações públicas no Brasil e em outros países?

Jeffrey Sharlach - Eu acho que o Brasil, antes de tudo, é um país muito jovem – relações públicas aqui é um setor muito novo. Por isso, há muitos profissionais adeptos de novas tecnologias. Outra coisa é que as redes sociais são muito importantes por aqui, porque os brasileiros são muito sociáveis. Esse é um dos motivos do nosso sucesso por aqui, já que as pessoas são muito influenciadas diretamente por outras pessoas. A melhor forma de influenciar uma pessoa é por meio de seus pares, de pessoas em quem ela confia, com quem ela convive. Assim, as redes sociais são atualmente ferramentas muito importantes para influenciar o comportamento e as impressões dos consumidores. Se eu te disser para comprar este celular [tira um aparelho do bolso] porque ele é realmente bom, isso significará mais para você do que se você vir uma propaganda em um aeroporto.

EXAME - O senhor acha, então, que empresas que não estão nas redes sociais perdem visibilidade?

Sharlach - Eu dou aula em uma universidade de Nova York para 40 estudantes que têm entre 19 e 20 anos. Se eu pergunto para eles quantos leem o New York Times, que é o maior jornal de lá, ninguém responde. Mas se eu pergunto quantas pessoas acessam o Facebook todos os dias, todos levantam a mão. Ou seja, uma empresa pode aparecer no New York Times, mas os jovens entre 20 e 30 anos nunca verão. As companhias que estiverem visíveis no Facebook são as que essas pessoas irão conhecer. Acho que isso é uma coisa muito importante a respeito de como nosso trabalho está mudando.

EXAME - E as empresas estão sabendo usar as redes sociais?

Sharlach - Acho que ainda estão aprendendo. Tenho muita sorte de ter o Gerson [Penha, diretor de Comunicação Digital] aqui, porque ele é realmente um expert nessa área. O que é importante é sabermos quais as diferenças e especificidades de se atuar nas redes sociais. Por exemplo, agora há muita discussão em termos de privacidade. Se uma empresa não se preocupa com a privacidade dos consumidores, isso pode ter uma repercussão, causar transtornos para as pessoas quando elas acharem que sua privacidade está sendo violada. É importante ter essa noção dentro de todo o processo. Em cada um de nossos escritórios temos experts que fazem parte da equipe do Gerson. Todos tem acesso à mesma base de conhecimento.

EXAME - E o que muda em seu trabalho nessa era digital?

Sharlach - Lembro quando obtivemos nosso primeiro endereço de e-mail. Era um e-mail da AOL, uma da maiores provedoras de internet na época. Nossa empresa inteira tinha só um endereço de e-mail. Uma vez ia viajar e disse para minha assistente: 'cheque pelo menos uma vez por dia se alguém mandou um e-mail' [risos]. Enquanto isso, no escritório em Miami, tínhamos seis aparelhos de fax, porque estávamos o tempo todo enviando e recebendo fax. Hoje se você vir nossos cartões de visita, não há o número do fax neles, porque hoje alguém pode ficar duas semanas sentado em frente de um aparelho de fax até receber algum documento.
Acho que o e-mail iniciou essa era digital. Desde então a forma com que nos comunicamos digitalmente com nossos clientes evoluiu muito.

EXAME - Como?

Sharlach - As empresas podem pela primeira vez comunicar-se, de verdade, diretamente com o público. Antes, nossos clientes se comunicavam com a mídia, que era quem controlava a mensagem. Agora, é possível para todos comunicar-se com milhões de pessoas pela internet. Mas há desvantagens. Por um lado, é a empresa quem está falando diretamente e controlando a mensagem. Por outro, há conversas que se estabelecem sem o controle das empresas, como o que você vê no Facebook, Orkut e outras redes sociais. E não temos como interferir nessas conversas.

EXAME - Para o senhor, qual é o futuro das relações públicas?

Sharlach - Acho que vai se tornar cada vez mais importante, porque a comunicação nunca foi tão fundamental para o sucesso de um negócio como é hoje. Isto [pega uma lata de Coca-Cola que está sobre a mesa] poderia ser um produto terrível, com gosto horrível, mas por ter uma boa comunicação, uma boa imagem e uma boa reputação, todo mundo quer Coca-Cola. Não estou dizendo que isso seja verdade, estou falando hipoteticamente. Poderia também ser o melhor refrigerante do mundo, mas se tivesse uma imagem ruim e uma má reputação, ninguém iria consumir. Hoje, a comunicação é prioridade para o sucesso de um negócio especialmente no momento em que surgem as redes sociais. Relações públicas sempre teve a ver com formar, educar e engajar as pessoas. Uma propaganda irá dizer "faça isso, faça aquilo". É por isso que relações públicas tiveram muito mais sucesso na transição para o digital. Nós sempre temos que ouvir as pessoas, Estamos em uma conversação entre duas partes. É por isso que vejo o futuro das relações públicas com bastante otimismo.

EXAME - Como foi seu trabalho no início? Era muito diferente?

Sharlach - O que eu fazia no início era basicamente relações com a imprensa. Naquela época os jornais eram muito influentes. Se você tivesse algo em um grande jornal, como a Folha de S.Paulo ou O Globo, por exemplo, você conseguia atingir as pessoas que queria, então nosso trabalho era fácil. Hoje é muito mais complicado. Agora temos que lidar com vários meios diferentes que as pessoas usam para buscar por informação. Isso muda muito. Outra coisa é que, antes, nosso trabalho era 100% América Latina. Mesmo que eu não fale espanhol nem seja latino, comecei a agência pensando nisso. Agora mais de 25% do nosso negócio é voltado para o mercado hispânico norte-americano, porque os Estados Unidos são o país com a quarto maior população de falantes de espanhol no mundo.

EXAME - Por que decidiu trabalhar com a América Latina?

Sharlach - Começamos em Miami, em 1993, e havia muitas empresas multinacionais naquela época, muitas sedes regionais de empresas latino-americanas em Miami. Naquela época, era muito comum assinarmos contratos com diretores de comunicação regionais e controlarmos contas na América Latina. Antes de termos nossos próprios escritórios, trabalhamos com parceiros locais em outros países. À medida que fomos crescendo, os negócios foram ficando muito focados nos mercados da Argentina, Brasil e México. Daí vimos a necessidade de abrir nossos escritórios nesses países. O quadro mudou um pouco em 2001, por conta do colapso financeiro na Argentina, que gerou problemas que até hoje não foram resolvidos. Hoje, a maioria das empresas multinacionais que atendemos, eu poderia dizer 80% ou mais, são de dois países: Brasil e México. No Brasil a economia está muito forte, há muita atenção do mundo neste momento para o sucesso econômico brasileiro e também por conta da realização da Copa e das Olimpíadas aqui. A filial brasileira do Jeffrey Group é nosso maior escritório.

EXAME - E como foi o trabalho no Brasil no início?

Sharlach - A comunicação avançou muito. A tecnologia mudou tanto que já não é mais tão importante para as empresas ter sedes regionais. No início, para ter uma linha de telefone aqui no Brasil, tivemos que comprar no mercado negro. Eu estava nos Estados Unidos, nós abrimos nosso escritório e tínhamos que ter US$ 800 em dinheiro para cada linha de telefone no mercado negro, já que se eu procurasse a companhia de telefonia, eu teria que esperar quatro ou cinco anos para ter uma linha. As coisas realmente mudaram. A primeira vez que eu vim para cá, em 1991, não se aceitava cartão de crédito porque a inflação era muito alta. Houve muito avanço desde então.

EXAME - Por que decidu trabalhar com relações públicas?

Sharlach - Sou formado em jornalismo, mas fiz minha pós-graduação em direito. Na época da pós, trabalhava como produtor em uma emissora de rádio e tevê de Nova York. Me formei em direito, e decidi que não seria advogado, mas que continuaria a fazer meu trabalho. Depois de seis meses, recebi uma ligação de um headhunter que me convidou para uma entrevista. Era para fazer a mesma coisa, ou seja, produção para rádio e televisão, mas em uma agência de relações públicas. Foi a primeira vez que ouvi falar em relações públicas. Acabei pegando a vaga, era uma agência muito grande naquela época. Comecei como produtor e dentro da empresa acabei indo para a área de contas de clientes.

Em Nova York trabalhei em 17 agências diferentes. Em 1993 me mudei para Miami e abri o The Jeffrey Group. Era apenas uma ideia na época, eu não tinha intenção de começar um grande negócio. Meus planos eram outros. Eu queria relaxar, ir para a praia de Miami, dar aula na Universidade de Miami, queria escrever um romance, e iria prestar somente um serviço de consultoria, apresentando clientes que eu conhecia para pessoas da América Latina.

Assim que eu comecei o negócio, recebemos muito trabalho rapidamente. Comecei o The Jeffrey Group no meu apartamento em 1993 e logo no fim do ano tivemos que nos mudar para nosso primeiro escritório, em Miami. Em 1996 abrimos nosso primeiro escritório fora dos Estados Unidos, em Buenos Aires. Em 1997 em São Paulo; e em 1998 na Cidade do México. Mais recentemente, em 2006, abrimos a filial em Nova York.

EXAME - O The Jeffrey Group está em pleno crescimento. Vocês pensam em abrir novos escritórios?

Sharlach - Estamos crescendo particularmente aqui no Brasil e nos Estados Unidos. Aqui por conta da economia aquecida como já disse. Nos Estados Unidos, por conta da população latina. Temos um censo demográfico a cada dez anos e no ano que vem teremos o resultado do levantamento que está sendo feito agora. Não tenho dúvidas que veremos um grande crescimento no número de hispânicos por lá. Então, por enquanto não há perspectivas de abrirmos um novo escritório, mas se isso for ocorrer será aqui ou nos Estados Unidos.

fonte: Portal Exame de 31/05/2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

As redes sociais e seu papel simbólico para os sujeitos




Ando pensando em muita coisa que ouvi e aprendi sobre pessoas, relações e comunicação, afim de , entender cada vez mais, o que move tanta gente a utilizar e fazer partes das redes sociais.Esse meu processo auto-investigativo, me remeteu primeiro a Freud e depois a Lacan, por que esses dois teóricos? Primeiro porque eu estudei ambos com profundidade, devido a uma formação que cursei em psicanálise, depois devido ao conteúdo teórico que eles oferecem na compreensão do enigmático e complexo universo humano.
Em seu livro Videologias, parceria com Eugênio Bucci, Maria Rita Kehl psicanalista de orientação lacaniana, no capítulo, Visibilidade e Espetáculo, explica a teoria do espelho de Lacan, e de como é importante os primeiros olhares da mãe para com o filho na sua estruturação psíquica. Segundo Lacan esse primeiro olhar é precursor do Eu ideal, ou seja ,eu sou inicialmente, o que minha mãe vê. Essa imagem irá me organizar para sempre. Depois, em uma outra instância, o pai, vem com sua autoridade separar, a criança da mãe, deste espelhamento, para que ela possa, projetar-se do amor materno para o social. O pai viabiliza a transição psíquica do sujeito dual (mãe/filho) para o sujeito que um dia vivenciará o mundo.
O Outro é um conceito simbólico, para a psicanálise, tudo que oferece suporte para a existência imaginária, são formas de mediar o sujeito e a o mundo que o cerca. Sabe-se que alguns indivíduos se destacam como portadores de discursos que influenciam e dão suporte, mesmo que temporariamente, para o laço social. Dentre eles, podemos citar, professores, líderes políticos e religiosos, que representam o Outro muito bem, para o sujeito. Só existimos além do amor narcísico de nossa mãe, quando nos projetamos no meio público. É no mundo que o sujeito mostra que existe verdadeiramente e faz diferença. Quando alguém inventa,cria ou produz,pode mostrar realmente que é único e deixar sua marca social.

Voltando as redes sociais, retornamos a pergunta inicial, por que será que elas têm um alcance cada vez maior entre as pessoas? Lanço outra pergunta pegando carona nas idéias de Lacan e Maria Rita Kehl. Será que as redes não estariam fazendo “ o nome do pai”, ou seja, a figura simbólica do pai, que citei acima, tornando os sujeitos aptos mesmo que, ilusoriamente/ virtualmente, para o mundo, o social? Nós comunicadores sabemos da força de um discurso, de uma imagem e atualmente, de um vídeo viral, são signos que conquistam em poucos minutos milhões de pessoas. Vivemos em uma sociedade que é profundamente desigual, no qual falta cultura, escola e saúde para muitos, dessa parcela, eu não vou falar hoje, vai ficar para outro momento. Quero me ater a outra fatia da população, as do incluídos digitalmente, mas alienados quanto a forma de pensar e atuar no mundo. Para esses a internet é “o pai simbólico”, é o que dita normas, moda, interesses e relações. A rede pode amenizar a solidão das grandes cidades, muitas vezes nos tornamos íntimos de alguém que mora em outra cidade, mas, mal falamos com nosso vizinho. Com o advento do Twitter, podemos seguir um ídolo, uma atriz, um presidente. Já pensaram se existisse Twitter na época de Elvis, dos Beatles? As vezes me pego imaginando, o que John Lennon com sua genialidade e sensibilidade escreveria e o quanto mobilizaria pessoas no mundo todo. E Marylin Monroe? Desabafando nos dias menos felizes. As redes são a reatualização dos velhos modelos: livros, cinema e a televisão, nos quais os seguidores continuam seguindo seus “objetos” de interesse. Objetos esses, que conseguiram existir publicamente, apesar das dificuldades, fizeram a diferença no mundo, deixaram as suas marcas e para muitos, eram e ainda são os seus referenciais. Aos que se utilizam das redes para fins profissionais, é bom nunca esquecer que, ser “pai simbólico”, antes de tudo requer muita responsabilidade, todo cuidado é pouco com o que se transmite, e agora então, nesse tempos de Twitter, sua mensagem em minutos, pode se transformar de uma simples frase em um "mantra" para muitos.